Sejam bem-vindos a mais uma aula do nosso curso preparatório. Hoje, mergulharemos no universo da narrativa para desvendar um elemento crucial: o conflito gerador. Compreender o conflito e sua interação com os outros componentes da narrativa é essencial para a interpretação textual e, consequentemente, para o sucesso nas avaliações.
O que é o Conflito Gerador?
Imagine uma história sem nenhum problema, sem nenhuma tensão. Provavelmente, seria uma narrativa monótona e sem graça. O conflito gerador é exatamente o elemento que injeta essa tensão na trama, é a força motriz que impulsiona a ação e motiva as personagens. É a "pedra no sapato" que precisa ser resolvida, o desafio a ser superado, o nó que precisa ser desatado. Em outras palavras, é a situação-problema que desencadeia a narrativa.
Tipos de Conflito
Os conflitos podem se manifestar de diversas formas:
Conflito Interno (Homem vs. Ele Mesmo): Ocorre dentro da personagem, uma luta entre seus desejos, crenças, valores ou emoções conflitantes. Um exemplo seria um personagem que precisa tomar uma decisão difícil que vai contra seus princípios.
Conflito Externo: Envolve a personagem em uma luta contra uma força externa. Podemos subdividi-lo em:
Homem vs. Homem: Conflito entre duas ou mais personagens, como uma rivalidade ou uma disputa.
Homem vs. Natureza: Conflito da personagem contra forças naturais, como uma tempestade, um animal selvagem ou uma doença.
Homem vs. Sociedade: Conflito da personagem contra as normas, instituições ou valores da sociedade em que vive.
Homem vs. Sobrenatural: Conflito da personagem com forças além da compreensão humana, como fantasmas, deuses ou entidades místicas.
A Interação com os Elementos da Narrativa
O conflito gerador não existe isoladamente. Ele se relaciona intrinsecamente com os outros elementos que compõem a narrativa:
Personagens: As personagens são os agentes do conflito. Suas ações, reações e motivações são diretamente influenciadas pelo conflito. O conflito revela as características das personagens, seus valores e sua capacidade de superação.
Espaço: O espaço, tanto físico quanto social, pode influenciar o conflito. Um ambiente hostil, por exemplo, pode intensificar o conflito entre a personagem e a natureza.
Tempo: O tempo, tanto cronológico quanto psicológico, também se relaciona com o conflito. A urgência do tempo pode aumentar a tensão do conflito, enquanto a passagem do tempo pode trazer mudanças nas personagens e na forma como lidam com o conflito.
Narrador: A perspectiva do narrador influencia a forma como o conflito é apresentado ao leitor. Um narrador onisciente, por exemplo, pode revelar os pensamentos e sentimentos de todas as personagens envolvidas no conflito, enquanto um narrador em primeira pessoa apresenta uma visão mais subjetiva.
Enredo: O enredo é a sequência de eventos que compõem a narrativa. O conflito gerador é o ponto de partida do enredo, desencadeando a ação e conduzindo a história até o clímax e o desfecho.
Em "Dom Casmurro", de Machado de Assis, o conflito gerador é a dúvida de Bentinho sobre a suposta traição de Capitu. Esse conflito interno o consome, influenciando suas ações, suas relações e sua percepção da realidade. O espaço (Rio de Janeiro do século XIX), o tempo (a passagem da adolescência para a vida adulta) e o narrador (o próprio Bentinho, com sua visão subjetiva) contribuem para a construção e a intensificação desse conflito. O enredo se desenvolve a partir dessa dúvida, culminando no afastamento definitivo entre Bentinho e Capitu.
Identificar o conflito gerador é fundamental para compreender a mensagem da narrativa e a forma como ela é construída. Ao analisar um texto narrativo, procure identificar a situação-problema central e como ela se relaciona com as personagens, o espaço, o tempo, o narrador e o enredo. Essa análise aprofundada permitirá uma interpretação mais completa e significativa da obra.
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A Ilha da Desconfiança: Uma Reportagem sobre Conflito e Isolamento
A pequena ilha de Farol do Norte, outrora um paraíso de união e tradição pesqueira, vive sob o peso de uma sombra: a desconfiança. Há três meses, uma série de desaparecimentos de peixes nas redes dos pescadores locais começou a gerar um clima de suspeita entre os habitantes. O que antes era uma comunidade unida pela labuta no mar e pelas festas comunitárias, agora se divide em grupos que se acusam mutuamente.
A crise teve início quando as redes de Jonas, um pescador experiente e respeitado na ilha, começaram a voltar vazias. Logo, outros pescadores relataram o mesmo problema. A princípio, cogitou-se uma mudança na rota dos peixes ou até mesmo um fenômeno natural. No entanto, a persistência do problema e a coincidência de afetar principalmente os pescadores mais bem-sucedidos alimentaram a teoria de sabotagem.
A desconfiança se intensificou com o surgimento de boatos e acusações anônimas. Velhas rivalidades entre famílias de pescadores ressurgiram, e a atmosfera na ilha se tornou tensa. As conversas nos bares e nas ruas se transformaram em debates acalorados, permeados por suspeitas e rancores. Até mesmo os laços familiares foram abalados, com irmãos e pais e filhos evitando o contato.
Dona Maria, matriarca de uma das famílias mais antigas da ilha, lamenta a situação: “Nunca imaginei ver Farol do Norte assim. É como se uma doença invisível tivesse contaminado nossos corações”. O isolamento se tornou uma consequência inevitável. Os pescadores passaram a trabalhar sozinhos, evitando a companhia uns dos outros no mar. As festas e os encontros comunitários foram cancelados, e o silêncio tomou conta da ilha.
O conflito gerador dessa situação – a perda inexplicável dos peixes – desencadeou uma série de outros conflitos, principalmente do tipo “Homem vs. Homem” e “Homem vs. Sociedade”. A luta pela sobrevivência e a busca por um culpado transformaram a comunidade em um campo de batalha, onde a confiança mútua foi a principal vítima. O espaço insular, que antes proporcionava união, agora intensifica o isolamento e a sensação de claustrofobia. O tempo, com a persistência do problema, só agrava a situação. O narrador, ao relatar os fatos, busca apresentar uma visão panorâmica da situação, mostrando os diferentes lados da história e os impactos do conflito na vida dos habitantes da ilha.
A resolução desse conflito é incerta. Resta saber se os habitantes de Farol do Norte conseguirão superar a desconfiança e reconstruir os laços que os uniam, ou se a ilha continuará refém desse clima de tensão e isolamento.
Questão 1. O conflito gerador da narrativa “A Ilha da Desconfiança” é:
a) A falta de recursos financeiros na ilha.
b) A disputa por melhores pontos de pesca.
c) O desaparecimento inexplicável dos peixes nas redes dos pescadores.
d) A rivalidade entre as famílias de pescadores.
e) O isolamento geográfico da ilha.
Questão 2. O conflito predominante na narrativa, considerando a tipologia estudada, é:
a) Homem vs. Natureza.
b) Homem vs. Sobrenatural.
c) Homem vs. Ele Mesmo.
d) Homem vs. Homem e Homem vs. Sociedade.
e) Homem vs. Tempo.
Questão 3. Como o espaço físico da ilha influencia o conflito?
a) Facilita a comunicação e a resolução dos problemas.
b) Intensifica o isolamento e a sensação de claustrofobia.
c) Não exerce nenhuma influência sobre o conflito.
d) Proporciona um ambiente de paz e harmonia.
e) Estimula a união e a cooperação entre os habitantes.
Questão 4. Qual a consequência direta do conflito na vida dos habitantes da ilha?
a) O aumento da produção de peixes.
b) A intensificação dos laços familiares.
c) A realização de grandes festas comunitárias.
d) O isolamento e o cancelamento dos encontros comunitários.
e) A busca por novas formas de trabalho na ilha.
Questão 5. O narrador da reportagem busca apresentar:
a) Uma visão parcial e subjetiva dos acontecimentos.
b) Uma defesa apaixonada de um dos lados do conflito.
c) Uma visão onisciente e panorâmica da situação, mostrando os diferentes lados da história.
d) Uma crítica severa à postura dos pescadores mais antigos.
e) Uma exaltação da vida isolada na ilha.
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