D20 – Reconhecer diferentes formas de tratar uma informação na comparação de textos que tratam do mesmo tema, em função das condições em que ele foi produzido e daquelas em que será recebido: Essa habilidade se concentra em como a mesma informação pode ser apresentada de maneiras diferentes, dependendo do contexto de produção e do público-alvo. Em outras palavras, o foco está na forma como a informação é tratada, e não necessariamente em opiniões divergentes sobre ela.
D21 – Reconhecer posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas ao mesmo fato ou ao mesmo tema: Essa habilidade se concentra em identificar opiniões divergentes sobre um mesmo fato ou tema. O foco está na identificação de diferentes pontos de vista, argumentos e posicionamentos.
Sejam bem-vindos a mais uma aula preparatória. Hoje, vamos mergulhar em duas habilidades cruciais para a interpretação textual e o desenvolvimento do pensamento crítico: D20 e D21. Ambas abordam a análise de informações, mas com focos distintos. Compreender essa diferença é fundamental para o sucesso nas avaliações e para a formação de cidadãos críticos e informados.
O D20 nos convida a observar como uma mesma informação pode ser apresentada de maneiras diversas. Não estamos falando de opiniões diferentes sobre um assunto, mas sim de como a informação é “embalada” e apresentada, considerando o contexto em que foi produzida e para quem se destina.
Imagine, por exemplo, a notícia de um novo tratamento para uma doença. Um artigo científico, destinado a médicos e pesquisadores, apresentará a informação com linguagem técnica, dados estatísticos complexos, detalhes sobre a metodologia da pesquisa e referências bibliográficas. Já uma reportagem em um jornal popular, destinada ao público em geral, trará a mesma informação com linguagem mais acessível, evitando jargões técnicos, com foco nos benefícios práticos do tratamento e, possivelmente, com depoimentos de pacientes.
Ambos os textos tratam do mesmo tema (o novo tratamento), mas a forma de apresentar a informação é completamente diferente, adaptada ao seu público e ao seu propósito comunicativo. Fatores como o gênero textual (artigo científico, reportagem, editorial, etc.), o veículo de comunicação (revista científica, jornal, blog, etc.) e o contexto histórico e social da produção também influenciam a forma como a informação é tratada.
Para identificar o D20 na prática, devemos nos perguntar:
Qual é o gênero textual? (Notícia, artigo científico, poema, etc.)
Qual é o público-alvo? (Especialistas, público geral, crianças, etc.)
Qual é o objetivo do autor? (Informar, persuadir, entreter, etc.)
Que tipo de linguagem é utilizada? (Formal, informal, técnica, etc.)
Como a informação é organizada e estruturada? (Cronológica, temática, comparativa, etc.)
O D21, por outro lado, foca nas divergências de opinião sobre um mesmo fato ou tema. Aqui, o que importa são os diferentes pontos de vista, argumentos e posicionamentos que existem sobre um determinado assunto.
Tomemos como exemplo o debate sobre a legalização do aborto. Há argumentos a favor, baseados na autonomia da mulher sobre o próprio corpo e na saúde pública, e argumentos contrários, baseados em convicções religiosas e na defesa da vida desde a concepção. Ambos os lados debatem o mesmo tema (o aborto), mas com perspectivas e argumentos opostos.
Para identificar o D21 na prática, devemos nos perguntar:
Quais são os diferentes pontos de vista apresentados?
Quais são os argumentos que sustentam cada ponto de vista?
Existem contradições ou inconsistências nos argumentos apresentados?
Qual é a posição do autor em relação ao tema?
A Diferença Crucial entre D20 e D21:
A principal diferença entre D20 e D21 reside no foco: o D20 se concentra na forma como a informação é tratada e apresentada, enquanto o D21 se concentra nas diferentes opiniões e posicionamentos sobre um mesmo tema. No D20, a informação em si é a mesma, o que muda é a sua apresentação. No D21, a informação pode até ser a mesma, mas as interpretações e os juízos de valor sobre ela são diferentes.
Imagine dois textos sobre a importância da vacinação.
Texto 1
Um infográfico em uma campanha do Ministério da Saúde, com linguagem simples, imagens ilustrativas e dados sobre a eficácia das vacinas na prevenção de doenças. (Foco no D20 – tratamento da informação para um público leigo).
Texto 2
Estudo falso
A desinformação surgiu de um estudo publicado em 1998 e amplamente desmentido pela comunidade científica. O documento, publicado na revista científica The Lancet pelo médico britânico Andrew Wakefield, incluiu 12 crianças que apresentaram sinais de autismo e inflamação intestinal grave, sendo que 11 delas supostamente haviam tomado a vacina tríplice viral (que protege contra sarampo, caxumba e rubéola), pois tinham vestígios do vírus do sarampo no organismo.
O médico utilizou dados falsos e contrariou todos os princípios básicos da pesquisa científica para defender a teoria. O resultado do conteúdo falso? A queda da cobertura vacinal e o surgimento de movimentos antivacinas em diferentes partes do mundo, que conquistam adeptos até hoje.
Além das falhas metodológicas graves, foi comprovado conflitos de interesse do autor. O fato é que não havia vírus do sarampo nas amostras de nenhuma das crianças analisadas e foi descoberto, ainda, que o pesquisador tinha encaminhado um pedido de patente para um novo imunizante contra o sarampo, que concorreria com a tríplice viral.
Além disso, Wakefield havia sido contratado por advogados para produzir dados contra a vacina, para que eles pudessem ganhar dinheiro processando os fabricantes do produto. A verdade foi revelada em 2004 pelo jornalista investigativo Brian Deer, em reportagem no The Sunday Times.
Em 2010, Wakefield foi julgado como inapto para o exercício da profissão pelo Conselho Geral de Medicina do Reino Unido, que apontou a conduta como "irresponsável", "antiética" e "enganosa". Outro médico envolvido na pesquisa, John Walker-Smith, também perdeu a licença. Na época, a própria revista The Lancet fez uma retratação e reiterou que as conclusões do estudo eram falsas.
Desde então, numerosos estudos e revisões científicas rigorosas foram realizados em todo o mundo, chegando à mesma conclusão: não há evidência de que vacinas causem autismo.
Em relação especificamente às vacinas tríplice viral (MMR) e covid-19, diversas pesquisas têm sido realizadas para investigar qualquer possível associação com o TEA. Nenhum estudo até o momento demonstrou uma conexão entre essas vacinas e o desenvolvimento do transtorno.
Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-com-ciencia/noticias/2024/abril/nao-existe-nenhuma-relacao-entre-vacinas-e-autismo
Um trecho de um artigo de um grupo antivacinas, alegando que as vacinas causam autismo e outros problemas de saúde, com argumentos pseudocientíficos e informações distorcidas. (Foco no D21 – opinião divergente sobre o tema da vacinação).
Dominar as habilidades D20 e D21 é essencial para a leitura crítica e a compreensão do mundo que nos cerca. Ao diferenciá-las, somos capazes de analisar textos com maior profundidade, identificando as estratégias de produção textual e as diferentes perspectivas sobre um mesmo tema.
Lembrem-se: o D20 nos ensina a observar como a informação é apresentada, enquanto o D21 nos ensina a reconhecer o que se pensa sobre ela.
Aula 2 - Implicações do Suporte, VOLTAR [INÍCIO] Aula 4 - Coerência e Coesão no